26/05/07

a música da polémica em Moçambique - som e imagem

«Hip-hop» irreverente

Canal de Música - por Azagaia

De algum tempo a estes dias, uma letra irreverente está a mexer com o chamado mundo do «hip-hop». É a letra intitulada «As mentiras da verdade», em que o jovem auto cognominado Azagaia, em jeito de preposição, com ritmo e poesia, faz uma incursão aos males que ele arrolou do País. Leia já a seguir, na íntegra, essa letra que está em alta velocidade na «blogsfera».

I
E se eu te dissesse
Que Samora foi assassinado
Por gente do governo que até hoje finge que procura o culpado
E que foi tudo planeado
Pra que parecesse um acidente e o caso fosse logo abafado
E se eu te dissesse
Que o Anibalzinho é mais um pau mandado
Que não fugiu da Machava mas foi libertado
Pelo mesmo sistema judicial que o tem condenado
E o mais provável é que ele agora seja eliminado


"Não canto para angariar fama e mulheres"

— Azagaia, autor da polémica música "As mentiras da verdade"
Por Emídio Beúla

De nome Edson da Luz, mais conhecido por Azagaia nos corredores do chamado hip-hop moçambicano, o jovem é estudante universitário e canta há cerca de 10 anos. Faz parte do grupo Dinastia Bantu e lançou recentemente o seu primeiro disco a solo composto por cerca de 15 temas de intervenção social, incluindo a polémica letra "As mentiras da verdade".
Em entrevista ao SAVANA , Azagaia disse que não se preocupa muito com a imagem das suas músicas, mas com o conteúdo que elas transmitem. "Sou um observador crítico, gosto de ler e busco inspiração em escritores como José Craveirinha e Mia Couto ", afirmou acrescentando que gosta da literatura para exprimir o seu ser.
Diz que admira a forma como Craveirinha escrevia contra a dominação colonial portuguesa e, porque o colonialismo acabou, vê no poder instituído o alvo das suas contundentes críticas. Na explicação sobre como consegue "sobriviver" num mundo que legitima e aplaude o invólucro, a embalagem, em detrimento do conteúdo, Azagaia realçou que não canta "para ter mulheres e fama, mas para transmitir a minha mensagem e experiência".
Promove-se música que deixa as pessoas alienadas
O jovem artista vai mais longe afirmando que não é bem verdade que as pessoas preferem música sem "qualidade", desde que excite a dança. "É claro que as editoras ainda não se aperceberam dessa realidade, e é por isso que não aceitam os nossos trabalhos. Produzimos no nosso estúdio com custos próprios e estamos a vender sem dificuldades", disse. Prossegue afirmando que o seu disco é muito solicitado por instituições e pessoas singulares e não vê a necessidade de se promover apenas a música comercial.
E alerta: "Promove-se música que deixa as pessoas alienadas, põe-se as pessoas a dançarem para não pensar". Aos olhos de Azagaia, a dança é tão promovida tal que chega a constituir aquilo que Karl Marx chamou de "ópio do povo", o narcótico específico para anestesiar a mentalidade das massas populares.
Por duas semanas que a música não passava
Contrariando as declarações de Patrício Filipe, director da Rádio Cidade, Azagaia disse que "As mentiras da verdade" não passaram nos programas de música daquela rádio durante duas semanas. "Não sei que termo posso usar, mas a verdade é que, depois da estreia no programa hip-hop da Rádio Cidade, a música não voltou a tocar. Apesar de ter deixado indicações por escrito informando que "As mentiras de verdade" era cartão-de-visita do álbum e tinham que passar a música, curiosamente foram passando outra música do álbum sem me consultar".
Acresce que, uma vez constatado o desvio, falou com um DJ daquela rádio que lhe informou que recebera ordens para não tocar a música porque pode incomodar o poder instituído. A música voltou a tocar na semana passada, justamente na quinta-feira passada, dia em que o Azagaia foi entrevistado nos estúdios daquela rádio.
Sobre a identidade do seu "informante" (DJ), Azagaia escusou-se a revelar o nome alegando que "não quero nenhuma guerra com a Rádio Cidade, só espero que cumpra com o seu papel e não censure a minha música, porque está dentro dos parâmetros da liberdade de expressão prevista na Constituição da República".
O jovem disse estranhar o facto de a Televisão Miramar ter passado uma vez o vídeo-clip da "As mentiras da verdade", e elogia a rádio Sfm e STV por passar sempre a música e o respectivo clip. Na TVM, a única pública do país, Azagaia disse que ainda não foi deixar o álbum, porém manifestou-se pessimista quanto à possibilidade de aquele órgão passar o vídeo-clip da música. Instado a justificar o seu pessimismo, o jovem limitou-se aos risos.
SAVANA - 18.05.2007


«Hip-hop» irreverente
Maputo (Canal de Moçambique) – De algum tempo a estes dias, uma letra irreverente está a mexer com o chamado mundo do «hip-hop». É a letra intitulada «As mentiras da verdade», em que o jovem auto cognominado Azagaia, em jeito de preposição, com ritmo e poesia, faz uma incursão aos males que ele arrolou do País. Leia já a seguir, na íntegra, essa letra que está em alta velocidade na «blogsfera».


I
E se eu te dissesse
Que Samora foi assassinado
Por gente do governo que até hoje finge que procura o culpado
E que foi tudo planeado
Pra que parecesse um acidente e o caso fosse logo abafado

E se eu te dissesse
Que o Anibalzinho é mais um pau mandado
Que não fugiu da Machava mas foi libertado
Pelo mesmo sistema judicial que o tem condenado
E o mais provável é que ele agora seja eliminado

E se eu te dissesse
Que Siba-Siba,
Coitado foi uma vitima
Da corja homicida
Que matou Cardoso na avenida
Não Anibal e a sua equipa
Condenados pelos media
Mas a mesma que deixou
Pedro Langa sem vida

E se eu te dissesse
Que Moçambique não é tão pobre como parece
Que são falsas estatísticas
E há alguém que enriquece
Com dinheiros do FMI, OMS e UNICEF
Depois faz o povo crer
Que a economia é que não cresce

E se eu te dissesse
Que a oposição
Neste país não tem esperança
Porque o povo foi ensinado a ter medo da mudança

Mas e se eu te dissesse
Que a oposição e o governo não se diferem
Comem todos no mesmo prato
E tudo está como eles querem

E se eu te dissesse
Que a barragem Cahora Bassa não é nossa
É dum punhado de gente que ainda vai encher a bolsa

E se eu te dissesse
que há jornais
Que fabricam informação
Pra venderem mais papel e ganharem promoção

E que são os mesmos que nos vendem
Aquela imagem de caos
Que transformam simples ovelhas em lobos maus

E se eu te dissesse
Que há canais de televisão comprometidos
Com o governo e só abordam os assuntos permitidos
Que esses telejornais já foram todos vendidos
Vocês só vêm o que eles querem
E eles querem os vossos sorrisos

E se eu te dissesse
Que o Sida em Moçambique é um negócio
ONG´s olham pro governo como um sócio

Refrão:
Porque nem tudo que eles dizem é verdade – é verdade
Porque nem tudo que eles não dizem não é verdade – é verdade (2 vezes)
Eles fazem-te pensar que tu sabes – mas não sabes
Cuidado com as mentiras da verdade – é verdade

II
Se eu te dissesse
Que a história que tu estudas tem mentiras
Que o teu cérebro é lavado em cada boa nota que tiras
Que a revolução não foi feita só com canções e vivas
Houve traição, tortura e versões escondidas

E se eu te dissesse
Que antigos combatentes vivem de memórias
Deram a vida pela Pátria e o governo só lhes conta histórias
Quantos nos dias de hoje dariam metade que eles deram?
– Em nome de Moçambique , nem os que vocês elegeram

E se eu te dissesse
Que o deixa andar não deixou de existir
Veja os corruptos a brincar de tentarem se impedir
Comissões de anti-corrupção criadas por corruptos
A subornarem-se entre eles pra multiplicar os lucros

E se eu te dissesse
Que as vagas anunciadas já tem donos
Fazemos bichas nas estradas mas nem sequer supomos

Que metade das entradas pertencem a esquemas de subornos
Universidades estão compradas mas que raio de merda somos?

E se eu te dissesse
Que o teu diploma de engenheiro não é pra hoje
Enquanto saem 100 economistas, engenheiros saem 2
Lares universitários abarrotados de gente
Vai ver as pautas a vermelho e os docentes indiferentes

E se eu te dissesse
Que neste país os estrangeiros é que mandam
Tem o emprego e o salário que querem ainda mandam
Meia dúzia de nacionais pra rua
É o neocolonialismo da maneira mais crua

E se eu te dissesse
Que a cor da tua pele conta muito
Quanto mais clara, mais portas que se abrem é absurdo
Os critérios de selecção pra emprego
Vais pra empresas tipo bancos e não encontras nem um negro

E se eu te dissesse
Que a policia da republica é uma comédia
São magrinhos, sem postura e se vendem por uma moeda
Agora matam-se entre eles traição na corporação
Afinal de contas quem é o policia, quem é ladrão?

E se eu te dissesse+-
Que há bancos que financiam partidos
E meia volta aparecem com os cofres falidos...

Refrão (de novo, até ao fim)
(Por Azagaia, do albúm Babalaze)
CANAL DE MOÇAMBIQUE – 09.05.2007

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