21/04/09

Agostinho da Silva: qual o seu legado?

Filósofo, poeta, ensaísta, teólogo, fundador de universidades. Agostinho da Silva marcou o séc. XX português e o seu espírito livre continua a contagiar todos aqueles que se cruzam com a sua obra.



“O Legado de Agostinho da Silva: quinze anos depois da sua morte” foi o tema do colóquio que decorreu a 3 de Abril na Faculdade de Letras de Lisboa.

Agostinho da Silva faleceu a 3 de Abril de 1994 deixando ainda muita obra por publicar e divulgar.

A Associação Agostinho da Silva, organizadora deste colóquio, reúne professores e amigos do pensador português e tem como objectivo maior difundir a obra de Agostinho da Silva.

Assim, no final da tarde de hoje, o Portal Agostinho da Silva vai começar a disponibilizar gradualmente todas as obras do pensador, obra que vai também ser editada na totalidade pela Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Agostinho, uma vida total

Agostinho da Silva nasceu em 1906 no Porto, mas seria a aldeia de Barca D’Alva, no distrito da Guarda, o local que guardaria para sempre como a sua terra. Com pouco mais de 20 anos licenciou-se em Filologia Clássica com 20 valores e um ano depois douturava-se com louvor.

Em 1931 parte como bolseiro para Paris, onde estuda na Sorbonne e no Collège de France. Após o seu regresso em 1933, dá aulas no ensino secundário em Aveiro até 1935, altura em que é demitido do ensino oficial por se recusar a assinar a Lei Cabral, que obrigava todos os funcionários públicos a declararem por escrito que não participavam em organizações secretas (e como tal subversivas).

No mesmo ano, consegue uma bolsa do Ministério das Relações Exteriores de Espanha e vai estudar para o Centro de Estudos Históricos de Madrid. Em 1936 regressa a Portugal devido à iminência da Guerra Civil Espanhola.

Três anos depois, Agostinho dava início a uma actividade que marcaria a vida de muitos. Cria o Núcleo Pedagógico Antero de Quental e em 1940 publica “Iniciação: cadernos de informação cultural”.

No total 120 cadernos foram escritos e editados por Agostinho da Silva, entre 1937 e 1944. Mas seriam os cadernos «O Cristianismo», editado em 1943, e «Doutrina Cristã», 1944, que abriram um fogo-cruzado entre Agostinho, Igreja e Estado Novo.

Na sequência da polémica em torno desse texto (onde Agostinho dizia, por exemplo, que Deus não exige nenhum culto dos seus seguidores e defendia que toda a escola era um templo), Agostinho é preso pela polícia política em 1943.

Abandona o país no ano seguinte em busca de uma liberdade que não lhe era permitida no seu país: o destino foi a à América do Sul, passando pelo Brasil, Uruguai e Argentina.

Em 1947 instala-se definitivamente no Brasil, onde viveu até 1969. Fundou várias universidades, como a de Santa Catarina, onde estabelece também uma forte ligação com a população local, nomeadamente os pescadores. Dizia aprender tanto com eles como com os grandes filósofos. Em 1961 torna-se assessor para a política externa do presidente Jânio Quadros.

Agostinho regressa a Portugal em 1969, por altura da Primavera Marcelista. Dedicou-se a escrever e a leccionar em diversas universidades portuguesas, dirigindo o Centro de Estudos Latino-Americanos da Universidade Técnica de Lisboa, e assumido o papel de consultor do Instituto de Cultura e Língua Portuguesa (actual Instituto Camões).

Em Portugal, foram as “Conversas Vadias” que abriram a porta à maioria da população para o universo do professor Agostinho da Silva. Treze entrevistas que colocavam o professor frente a frente com personalidades como Maria Elisa, Herman José, Adelino Gomes ou Baptista Bastos colaram milhares à televisão.

Agostinho da Silva morreu aos 88 anos.


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