27/08/10

E porque não dissemos nada..

Anda a circular na net um powerpoint com uma selecção de poesias que achei interessante. Já conhecia alguns, principalmente os de Maiakovski e Brecht, mas todos eles têm o mesmo tema, sempre actual, de como vamos assistindo e permitindo que direitos e liberdades nos sejam retirados sem nada fazermos.

Na primeira noite, eles aproximam-se           
e colhem uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam o nosso cão.                
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,    
e, conhecendo o nosso medo,                 
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,                        
já não podemos dizer nada

Vladimir Maiakovski (1893-1930)


Primeiro levaram os negros,

Mas não me importei com isso,
Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas não me importei com isso,
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis,
Mas não me importei com isso,
Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados,
Mas como tenho o meu emprego,
Também não me importei.

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)



Um dia vieram e levaram o meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram
o meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram o meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e levaram-me;
já não havia mais ninguém para reclamar...

Martin Niemöller, 1933



e tudo isto me fez lembrar a "velha" canção do Zeca


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