Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta poesia. Mostrar todas as mensagens

27/08/10

E porque não dissemos nada..

Anda a circular na net um powerpoint com uma selecção de poesias que achei interessante. Já conhecia alguns, principalmente os de Maiakovski e Brecht, mas todos eles têm o mesmo tema, sempre actual, de como vamos assistindo e permitindo que direitos e liberdades nos sejam retirados sem nada fazermos.

Na primeira noite, eles aproximam-se           
e colhem uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.

Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam o nosso cão.                
E não dizemos nada.

Até que um dia, o mais frágil deles, entra
sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua,    
e, conhecendo o nosso medo,                 
arranca-nos a voz da garganta.

E porque não dissemos nada,                        
já não podemos dizer nada

Vladimir Maiakovski (1893-1930)


Primeiro levaram os negros,

Mas não me importei com isso,
Eu não era negro.

Em seguida levaram alguns operários,
Mas não me importei com isso,
Eu também não era operário.

Depois prenderam os miseráveis,
Mas não me importei com isso,
Porque eu não sou miserável.

Depois agarraram uns desempregados,
Mas como tenho o meu emprego,
Também não me importei.

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.

Bertold Brecht (1898-1956)



Um dia vieram e levaram o meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram
o meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram o meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.

No quarto dia, vieram e levaram-me;
já não havia mais ninguém para reclamar...

Martin Niemöller, 1933



e tudo isto me fez lembrar a "velha" canção do Zeca


14/06/09

Apelo a Santo António - Fantástico Poema Popular



Ó meu rico Santo António

Meu santinho Milagreiro

Vê se levas o Zé Sócrates

P'ra junto do Sá Carneiro

Se puderes faz um esforço

Porque o caminho é penoso

Aproveita a viagem

E leva o Durão Barroso

Para que tudo corra bem

E porque a viagem entristece

Faz uma limpeza geral

E leva também o PS

Para que não fiquem a rir-se

Os senhores do PSD

Mete-os no mesmo carro

Juntamente com os do PCP

Porque a viagem é cara

E é preciso cultivar as hortas

Para rentabilizar o percurso

Não deixes cá o Paulo Portas

Para ficar tudo limpo

E purificar bem a cousa

Arranja um cantinho

E leva o Jerónimo de Sousa

Como estamos em democracia

Embora não pareça às vezes

Aproveita o transporte

E leva também o Menezes

Se puderes faz esse jeito

Em Maio, mês da maçã

A temperatura está a preceito

Não te esqueças do Louçã

Todos eles são matreiros

E vivem à base de golpes

Faz lá mais um favorzinho

E leva o Santana Lopes

Isto chegou a tal ponto

E vão as coisas tão mal

Que só varrendo esta gente

Se salvará Portugal

27/05/09

Grande poeta é o Povo!

Leiam e espantem-se com o texto bem construído e cheio de humor.

Requerimento a Fernanda Câncio (namorada do nosso PM!)

Ó Fernanda, dado
que já estou cansado
do ar teatral
a que ele equivale
em todo o horário
de cada canal,
no noticiário,
no telejornal,
ligando-se ao povo,
do qual ele se afasta,
gastando de novo
a fala já gasta
e a pôr agastado
quem muito se agasta
por ser enganado.
Ó Fernanda, dado
que é tempo de basta,
que já estou cansado
do excesso de carga,
do excesso de banda,
da banda que é larga,
da gente que é branda,
da frase que é ópio,
do estilo que é próprio
para a propaganda,
da falta de estudo,
do tudo que é zero,
dos logros a esmo
e do exagero
que o nega a si mesmo,
do acto que é baço,
do sério que é escasso,
mantendo a mentira,
mantendo a vaidade,
negando a verdade,
que sempre enjoou,
nas pedras que atira,
mas sem que refira
o caos que criou.
Ó Fernanda, dado
que já estou cansado,
que falta paciência,
por ter suportado
em exagerado
o que é aparência.
Ó Fernanda, dado
que já estou cansado,
ao fim e ao cabo,
das farsas que ele faz,
a querer que o diabo
me leve o que ele traz,
ele que é um amigo
de Sao Satanás,
entenda o que eu digo:
Eu já estou cansado!
Sem aviso prévio,
ó Fernanda, prive-o
de ser contestado!
Retire-o do Estado!
Torne-o bem privado!
Ó Fernanda, leve-o!
Traga-nos alívio!
Tenha-o só num pátio
para o seu convívio!
Ó Fernanda, trate-o!
Ó Fernanda, amanse-o!
Ó Fernanda, ate-o!
Ó Fernanda, canse-o!

18/04/09

O Poema da 'Mente'

Há um primeiro-ministro que mente.
Mente de corpo e alma, completamente.
E mente de maneira tão pungente
Que a gente acha que ele mente sinceramente.
Mas que mente, sobretudo, impunemente...
Indecentemente... mente.
E mente tão racionalmente,
Que acha que mentindo vida fora,
Nos vai enganar eternamente.

07/04/09

A pilita alentejana

Rija, enquanto durou.
Agora q'amolengou
e antes q'a morda a cobra,
Vou atá-la c'uma corda
Pra ela nã me fugiri.

Preciso da sacudiri,
Leva tempo pá'cordari
Já nem se sabe esticari.



Más lenta q'um caracoli,
Enrola-se-me no lençoli.

Ninguém a tira dali,
Já só dá em preguiçari.
Nada a faz alevantari
E já nã dá com o monti,
Nem água bebe na fonti.

Que bich'é que lhe mordeu?


Parece defunta, morreu.
Deu-lhe p'ra enjoari,
Nem lh'apetece cheirari.
Jovem, metia inveja.
Com más gás q'uma cerveja,
Sempre pronta p'ra brincari.

Cu diga a minha Maria,
Era de nôte e de dia.


Até as mulheres da vila,
Marcavam lugar na fila,
P'ra eu lha poder mostrari !
Uma moura a trabalhari,
Motivo do mê orgulho.

Fazia cá um barulho !
Entrava pelos quintais,
Inté espantava os animais.


Eram duas, três e quatro,
Da cozinha até ao quarto
E até debaixo da cama.
Esta bicha tinha fama.

Punha tudo em alvoroço,
Desde o mê tempo de moço.
A idade nã perdoa,
Acabô-se a vida boa !


Depois de tanto caçari,
Já merece descansari.
Contava já mê avô:
"Niuma rata lhe escapou !"
É o sangui das gerações.
Mas nada de confusões,

Pois esta estória aqui escrita,
É da minha gata, a Pilita !

14/03/09

Hoje, remeto para a Tuca..

paraty

Hoje deliciei-me no Arma Zen da Tuca! Primeiro com o artigo sobre Paraty, o sitio que mais gostei do (pouco) Brasil que pude conhecer. O texto "O cozinheiro invisível de Paraty" de Nina Horta, é muito bonito, principalmente para quem passou por Paraty.
Depois, a Tuca postou um artigo de Pasquale Cipro Neto, que fala de Pessoa e Drummond de Andrade, Lisboa, Tejo e lagoa.. Para quem quiser desembrulhar isto, é só ler O Tejo e a lagoa, no Arma Zen da Tuca, para compreender.
E, para terminar, gostei muito do video sobre o zoólogo Kevin Richardson e os leões, que mais parecem gatinhos corpulentos!


Lioness swiming with Kevin Richardson

21/02/09

Poema do Fecho éclair - António Gedeão

Filipe II tinha um colar de oiro
tinha um colar de oiro com pedras
rubis.
Cingia a cintura com cinto de coiro,
com fivela de oiro,
olho de perdiz.

Comia num prato
de prata lavrada
girafa trufada,
rissóis de serpente.
O copo era um gomo
que em flor desabrocha,
de cristal de rocha
do mais transparente.

Andava nas salas
forradas de Arrás,
com panos por cima,
pela frente e por trás.
Tapetes flamengos,
combates de galos,
alões e podengos,
falcões e cavalos.

Dormia na cama
de prata maciça
com dossel de lhama
de franja roliça.
Na mesa do canto
vermelho damasco
a tíbia de um santo
guardada num frasco.

Foi dono da terra,
foi senhor do mundo,
nada lhe faltava,
Filipe Segundo.

Tinha oiro e prata,
pedras nunca vistas,
safira, topázios,
rubis, ametistas.

Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta
bragas de veludo,
peliças de lontra.

Um homem tão grande
tem tudo o que quer.

O que ele não tinha
era um fecho éclair.


Nota: (Filipe II teria da viver até aos finais do Séc. XIX para poder ter o seu fecho éclair)

09/02/09

Fernando Pessoa



Posso ter defeitos, viver ansioso é ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo
e que posso evitar que ela vá a falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver,
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vitima dos problemas
e tornar-se um autor da própria historia.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito de sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um ''não''.
É ter segurança para receber uma critica mesmo que injusta.

Pedras no caminho???
Guardo-as todas...um dia vou construir um castelo....

Fernando Pessoa